quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ontem fui ao teatro ver Concerto de Ispinho e Fulô

Não quero ir ao teatro reter informações e nem à reboque, ganhar mensagens...
Informações sobre a miséria, sobre a fome, já temos de montão e já ficou bem provado que saber das coisas é só uma parte da novela... A parcela urubu da imprensa nos despeja litros de sangue na cabeça todos os dias. Esvoaçam-se diante de cadáveres, alimentando-se tal como esta politiqueira engorda com os  resíduos das tantas coisas que sofremos.
 Mas lá, em cena, a vida se dilata tanto, que as vezes, torna as paisagens deste encontro, quase que inexprimíveis. É  na platéia onde sentimos na alma as vibrações que nos conectam às lutas e festas mais arcaicas. A capacidade infinita de resistir, amar, lutar... É solidão e irmandade esta experiência de ser platéia, na medida em que não sabemos por quais recantos da nossa existência estão sendo conduzidas tantas imagens poéticas e quando é que elas  se refletirão na nossa existência.



Esta foi a quarta ou quinta vez que assisto o Tijolo fazendo este trabalho impecável., desta vez, sabendo que há dois dias a comunidade de Pinheirinhos, em São José dos Campos, foi brutalmente invadida pela polícia. O espetáculo também nos conta uma história verídica do sítio Caldeirão que foi espisinhado pelo poder militar... e nenhuma vírgula  na nossa história oficial.

sábado, 14 de janeiro de 2012

AMO A SOLIDÃO



Gosto de andar nos desertos imensos
pelas sarças sagradas, vendo as tardes
cheias de cordeiros e de mulheres morenas
que vão buscar água nas cisternas distantes
onde moram as estrelas do ocaso.
Gosto de ir pelos lagos onde a verdade ainda mora
e a universal rede de Cristo colhe peixes nas águas.
Amo a solidão das montanhas donde a palavra descia
e o gesto bom descia para as crianças pobres.
Amo clamar a Deus nessas tardes longínquas
cheias de salmos e de camelos mansos.
Amo a velha paisagem bíblica
que inda há de baixar sobre a terra cansada
para o sossego dos olhos esmagados.
Amo as terras de Deus onde os profetas andaram
e onde meu pacto fiz com a suprema Presença
e serei holocausto ante a Força das forças.

Jorge de Lima

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ESTADOS DA ÁGUA

Deixa-me esvaziar o mar esta noite
Trago garrafas e copos
mas a grande parte d’água
tirarei com as mãos
Jogo, com testemunhas notívagas,
Gota a gota,
E por vezes,
Lambendo o sal,
Que é para ter fé e força nesta jornada

Deixa-me esvaziar o mar esta noite...
Não... já nem te peço
Por certo tua resposta seria navegar
Surfar
Mergulhar
Conhecer alguma espécie rara destas tantas que nadam aqui
Me entregarias remos caros,
Barcos artesanais, destas madeiras que acho tão bonitas...
Tudo para turvar minha vista diante da noite e do pacto que tenho com ela

Desviem os olhos dos meus e voltem a cear,
Saio sem estardalhaço pela porta mais quieta que houver
A água me chama,
O trabalho é árduo
Olhem por algum vitral os pingos dançando pelo ar
Migrando desta terra infeliz.
Assistam ao espetáculo aquático
Estas águas não voltarão... e o que serão destas margens?
eu,
Se sobreviver,
Corro debatendo-me sem ar,
Em busca de qualquer riacho,
Córrego,
Poça,
Qualquer espelho d’água
Filho de tanto jorro.

De outra forma,
Não quero, nem posso mais pensar neste oceano
ele me mata todas as vezes que eu o olho nu
sem anunciar sequer um invento