quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Gota d'água

Perplexidade - difícil para mim encontrar outra palavra para representar... Assisti a montagem de Gota d'água, que está cartaz às terças-feiras no Teatro Coletivo.
É do lugar sujo, onde amontoa-se a gente cansada, ferida e urgente que Chico Buarque deve ter ido buscar estas personagens para escrever à luz do clássico grego escrito por Euripedes.
Na cena, abundância de uma simplicidade temperada pelo fogo de um grito irrompido e representativo de uma multidão. Dos cantos de terreiro, das roupas gastas e compradas em liquidações de lojas populares, da gestualidade contorcida e rasteira tal como a dos Exus, do falar gritado da gente pobre girando na roda viva: em tudo isto há uma gota d'água prestes a rolar.
E que ninguém pense que nos trens lotados, nas casas construídas a toque de caixa, nas bancas de lojas abarrotadas, nas filas quilométricas nos pontos de ônibus, esta gota d'água ameaça-se de forma diferente. Não! E não! Ela urge cair nestes limiares tão brutais da vida de quem não possui  redes de segurança e conforto.
Os atores também, sem esquecerem a ludicidade, são brutais ao manifestarem a transgressão, a raiva e a vingança. Também o afeto, a amizade e a paixão. Nesta mesma vibração, podemos ver a vida manifesta nos terreiros de tantos santos, nas rodas de samba, no calor dos carnavais. No circuito potente e criativo manifesto na cultura popular.
Só posso dizer Obrigado aos Deuses e aos Artistas desta Gota D'Água!