quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pretério Imperfeito


Sábado passado tive a grata surpresa de assistir “Pretérito Imperfeito”, da Cia Teatro-Documentário”. A surpresa fica por conta das pré-formulações que espontaneamente criei diante do binômio que dá nome ao grupo.
Mas como não tenho parentesco com Narciso, entrei na casa!
É evidente que sempre assistimos algo com nossos próprios olhos. Que nada de olhar imparcial! Vi com os olhos da pessoa que era naquele sábado.
Uma casa aconchegante da Bela Vista é ocupada por estes artistas. Mobiliada, pintada, cuidada e andar pelos cômodos desta casa poetizada com histórias de vida de habitantes de São Paulo, é o próprio trilho do trabalho.
Numa relação tão íntima, tudo se aconchega e nos chega como num encontro caloroso destes que fazemos em nossa casa para recebermos queridos. Percebendo esta tamanha proximidade entre móveis, atores mostrando fotografias, narrando histórias a nós com familiaridade, temi ser envolvido em mais uma novela da vida real. O que seria um tédio, pois é fácil ver a vida cotidiana e mesquinha imitada em fazendas, casas chiques e apartamentos.
Porém, a tal novela enfiou o rabo entre as pernas e foi farejar outro quintal. E que bom!
Não é fácil esta empreitada de conduzir o público a sua história pessoal pelo envolvimento de narrativa de outras vidas. E é por aí que a coisa se deu para mim... Uma história que puxa a outra, que desemboca na outra, que antecede, anuncia ou mesmo se finda em si mesma. Mas é sempre uma história nossa, um cômodo a mais nesta construção singular, nesta casa que é cada indivíduo.
É de lembrar Eduardo Galeano nos lembrando "somos feitos de histórias e não de átomos".
É de nos fazer perguntar que casa (s) tenho. Onde moro e porque moro. Estes ímpetos que nos fazem enraizarmo-nos e que outras vezes, nos pedem desprendimentos, vôos.
Sai voando um pouco nestas nuvens. Pensando nos lugares que tenho morado, naqueles que morei.
Curioso que um mês atrás fui visitar a casa em que cresci no interior. Chegando lá, ela estava demolida. Meio lote fizeram um escritório e a outra metade tinha ainda ruínas do que tinha sido as paredes de onde morei. Não sou de muita superstição, mas apanhei uma pedrinha em meio às ruínas e guardei no bolso. Vai saber quantos lugares ainda vou morar e de quanta força vou precisar para não esquecer das minhas primeiras moradas...  

E pra não dizer que não falei das flores... uma memória saltou aqui agora: “Mistério do fundo do pote”, do Ventoforte.
Àqueles que tem a casa no mundo! O teto no céu...

Um comentário: