domingo, 12 de junho de 2011

REFLEXÕES SOBRE A PERSONAGEM

Dois rios que entram em confluência: um, das águas/imagens de dentro: sonhos, memórias; outro, que é carne, músculo, osso.
A personagem é este encontro das águas palpáveis e impalpáveis. Monumento efêmero esculpido pelo labor de tantos trabalhadores... ou um só. Traz consigo e com seu universo materializado nas volúpias derradeiras chamadas cenas, o suor do que escreveu, do que dirigiu, do que preparou corpo, voz, pensamento, do que desenhou figurinos, do que reinventou a existência do espaço.
Quando existe, puxa um fio cuja ponta primeira deve morar nos primeiros intentos desta espécie em saborear e provocar e alegrar a espiritualidade de uma comunidade.
Fez e faz isto vestindo ou não máscaras. Com palavras, ou sem elas. Ardendo em paixões ou ridículo na corda bamba que desobedece a moral.
Performer? Brincante? Persona? Em bando? Solitário?
Seu lugar é a urgência de um encontro utópico em querer ser inesquecível. Ir repetível. Por isto é sempre uma aparição ousada, ainda que sutil, delicada.
É obra gestada no cultivo de um ofício fundamentado pela liberdade e paixão. Se atende a demandas do capital, da catequese, da pretensão em ensinar, perde radicalmente um dos seus ingredientes do qual sua existência é feita.
Não sei o nome deste ingrediente. Desconfio que é o mesmo que tempera a vocação dos poetas quando criam, dos filósofos quando se indignam e das crianças quando brincam.

Ilo Krugli em cena do espetáculo "Um rio que vem de longe"



Um comentário: